Dança e tecnologia digital se unem no Guiar – Festival Internacional de Screendance, que ocorreu no Recife de 9 a 13 de outubro. Como parte da programação, uma mostra competitiva de videodança foi promovida no Cinema São Luiz, no bairro da Boa Vista. Além dela, estavam previstas apresentações de performances ao vivo pelo site do evento, uma mostra não competitiva, oficinas e debates.
O Centro Cultural Brasil-Alemanha (CCBA) apoia o projeto e, na segunda-feira (19/11), promove uma edição do Kulturforum ligada ao tema. As fotógrafas e videoartistas Vanessa Alcantara e Marina Mahmood falam sobre o tema Processos de Criação de Videodança em diálogo com os artistas Alexandre Salomão (PE), Filipe Marcena (PE), Katerina Valdivia Bruch (Peru/Alemanha). A mediação é de Fernanda Capibaribe. Na ocasião, será inaugurada uma mostra do Laboratório de Performance Urbana do CCBA (LPU), intitulada Inspirações em Videodança. A entrada é gratuita.
O LBU se formou a partir da realização do workshop de videodança Os Espaços no Próprio Corpo – Aproximação à Arquitetura Através da Dança, ministrado no CCBA por Katerina Bruch. Idealizador do festival Guiar, o bailarino André Aguiar fez parte da turma. “Foi uma rica experiência que possibilitou irmos a quatro patrimônios culturais e experimentarmos da ideação à pós-produção de videodanças em três dias”, recorda o artista.
Ele explica que o termo screendance foi escolhido para o nome do Guiar porque o festival abraça diversas experiências de dança com telas, a exemplo das que incluem a utilização de jogos e softwares. Com o evento, André busca conectar profissionais dos setores audiovisual, da dança e da tecnologia, além de fomentar e difundir suas criações.
“É interessante que esta primeira edição aconteça no Recife. O Nordeste brasileiro possui praticamente um terço dos grupos de dança deste país. Segundo o IBGE (2006), 56,1% dos municípios brasileiros possuem grupos artísticos de dança, dos 3.123 grupos de dança existentes no Brasil, 1.026 grupos estão localizados na região Nordeste. Sendo essa a segunda manifestação artístico-cultural mais disseminada no Brasil”, destaca o artista.
“A dança é patrimônio imaterial da humanidade, por isso, seu compartilhamento de saber se deu principalmente ao vivo. Queremos incentivar a criação e difusão de mais registros da dança porque nela o ser humano consegue fazer coisas incríveis consigo mesmo, aprender mais sobre arte, educação e saúde. Perceber belezas na diversidade de movimentos, valorizar o efêmero, as relações do corpo com consigo, o outro e o meio. Se inspirar com o que é indizível em palavras, tanto que você só saberá dançando”, continua André.
Diversidade
Realizado com apoio do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura), o Guiar estabeleceu uma parceria com a Rede Monalisa, que conecta transexuais ao mercado de trabalho. Os organizadores do evento buscaram contratar transgêneros para legendar os filmes em inglês e português.
“O festival Guiar tem como objetivo também estimular a maior presença de diretores e diretoras de todas as raças, gêneros, sexualidades e classes sociais na sua programação. O tema diversidade se faz necessário porque, de acordo com a Agência Nacional de Cinema (ANCINE), 90% da programação das salas multiplex são de filmes estrangeiros. Os 10% das obras brasileiras são, quando não exclusivamente, feitas em maioria por homens brancos cisgêneros e apresentadas como comédia romântica heteronormativa em um país miscigenado e povoado em escala geográfica continental como o Brasil”, complementaAndré.
“O convívio com a diversidade estimula a criação de conexões antes inimagináveis. São projetos como o Guiar, que preservam, reconhecem e valorizam as especificidades das tendências artísticas, com um olhar contemporâneo crítico, que estimulam o povo a ficar menos suscetível a ser conduzido por qualquer autoritarismo que chega”, conclui.
Texto: Eugênia Bezerra
Foto: Rayanne Morais